
Quando fui convidado para fazer parte do projeto Reprocessamentos Coreográficos a primeira pergunta que me fiz foi: Estou pronto para reprocessar e ser reprocessado? Estou disponível para me remexer (e aqui nos dois sentidos)?
Vejo através da comunicação social a questão de que eu sou o MEIO através do qual o coreografo vai se comunicar com o público então eu preciso permitir que a proposta dele me contamine, que eu me torne uma parte de seu ser, apenas assim poderei carregar a informação da forma mais fidedigna. Sim isto já é um resultado de reprocessamento, uma vez que quanto ser humano eu seria um retransmissor e portanto um emissor, mas eu me reciclo e me formo meio e assim me torno disponível.
Vejo através das artes a questão como um APAIXONADO através do qual a criação se funde a criatura pois, elas em lapsos de tempo, se tornam unas e apenas assim conseguem transduzir signos, símbolos e se alimentarem uma da outra. A obra e o artista estão em constante gestação e quanto mais se nutrem mais se complementam, então entra a questão de que apenas o artista pode “engravidar” da idéia e assim geri-la dentro de si.
Vejo através da psicologia a questão como um GRUPOS OPERATIVOS através do qual você se abre para os diálogos e a sinceridade é uma ferramenta essencial, a disponibilidade de tocar nas feridas (deixar que toquem nas suas e ter coragem e cuidado para tocar nas alheias). Dentro de um grupo operativo não há disputa, não há vencedores uma vez que eles estão interligados e interdependentes, todos trabalham em prol de uma tarefa. O trabalho deste processo acaba gerando a dissolução de certas barreira de individualidade e criando um corpo policiente.
No momento que aceitei o trabalho do Diego me coloquei com estas disposições uma vez que as encontrei nelas o diálogo junto aos Reprocessamentos Coreográficos e também acredito que um hermetismo em arte é pobre e necessita sempre da troca com outra áreas do conhecimento; fique claro que não vejo isso exclusivamente na arte eu acredito no conhecimento plural, no homem grego, portanto todas as áreas são enriquecedoras umas das outras.
Quanto aos presentes “resultados”:
Perdi minhas unhas pretas
Ganhei 2Kg
Perdi meu anel do primeiro noivado
Ganhei o apoio da família para dançar
Perdi meu relógio biológico
Ganhei novos contatos
Recuperei minha intimidade com as artes
Transduzi a mim o uso de fósforos
Reciclei algumas garrafas de vodka vazias
Reloquei meus dados virtuais
Re-signifiquei a idéia de salutar para mim
Aprendi a dançar na boquinha da garrafa com a centrifugação da máquina de lavar-roupas;
Descobri que o HD do meu PC é pequeno para todas as músicas que eu gostaria de me mover;
Assumi que minhas palavras não sabem fazer sólos; de mãos dadas, por hífen, chegam no sentido que desejo, dançam cirandas;
Desvelei a pluralidade da minha arte, me vendo como artista contemporâneo e não mais específico como escritor, bailarino, performer, ...
Entendi que a falta não me torna incompleto, pelo contrário ela me completa e assim me dá movimento e sentido;
Percebi que posso dispor de outros corpos, outras mentes, outras presenças-ausências; que posso ter quantas escápulas eu conseguir recrutar.
Ao reprocessar minhas coreografias mentais, sociais, artísticas, sensitivas troquei os muros por um gramado verde onde Merleau-Ponty rola com Snoop enquanto Dante Alighieri toma chimarrão com a Sônia esperando o Segundo Sol chegar. E tudo isso é dança.
“Eu quero ver a intenção no teu movimento.”
“Me mostre o que é dança e como você pensa ela através do movimento.”
“É importante deixar claro para os outros como você pensa a dança.”
Hei-la em simples complexidade. Não tenho admirado os fundamentalismo e as verdades perfeitas muito menos as celas conceituais, a não ser, que estas sejam para cavalgar sentido a fora.
... reciclar não faz bem só para o planeta, para seres humanos também.
Quando vamos dançar com o Lego?
imagem do post :
The art of the brick de Nathan Sawaya
The art of the brick de Nathan Sawaya
Fazendo um anexo:
ResponderExcluirDescobri que o reprocessamento está mais permeante do que pensei, neste post reprocessei significados e criei uma nova palavra em língua portuguesa. O termo 'POLICIENTE' não existe. Portanto irei explicar pro seu Aurélio e Dr. Houaiss. Policiente é um corpo, seja físico ou simbólico detentor de vários 'cientes' (conhecedor; sabedor; informado; inteirado; sábio; erudito; cônscio).