13 de janeiro de 2009

Diálogos Satélites sobre Macarena

Após dois ensaios presenciais o projeto coloca a minha pessoa certas impressões/sensações que vejo pertinentes em compartilhar neste blog.

A primeira delas se refere ao momento que usamos a coreografia matriz e aos poucos, conforme a mudança do estímulo sonoro (no momento músicas e áudio de reportagens), vamos nos deixando contaminar por este estímulo e respondendo através do movimento. Meses atrás tive contato com este procedimento através de um workshop, confesso que foi praticamente paralisante; desenvolver a habilidade de dialogar com o áudio mutante e o corpo/coreografia chama um requisito de disposição e atenção intensos. Agora revisitando este procedimento ele me parece mais dialogável uma vez que assumi a questão usando uma abordagem mais exploratória e menos exatista; dentro desta postura este procedimento se tornou um dos momentos mais instigantes e aparentemente inesgotáveis dos ensaios, que inevitavelmente ressoa no resto dos dias com a estímulo sonoro da máquina de lavar roupa, os carros na rua, o jornal por debaixo da porta, os vendedores de ouro da Andradas. O mais interessante não é estar dentro do projeto, mas o projeto estar dentro da gente.

O segundo comentário se refere a nossa bailarina-observadora de hoje, a Luiza, que devido a uma lesão ficou encarregada de olhar o ensaio e anotar impressões. O fato é que é diferente estar no campo de visão/observação de alguém que “deveria” estar alí do seu lado executando junto. A constante vontade de requisitá-la para dançar e a “falta” de uma das vozes nas coreografias. É interessante pela questão de estarmos começando o projeto mas inevitavelmente conversando com os corpos-expressão de nossos parceiros, o posto de observação da Luiza mexeu em mim não pelo que ela estava fazendo mas pelo que ela não estava fazendo.

O terceiro ponto que venho arguir é a parte final de nosso ensaio de hoje onde cada um dos bailarinos escolheu entre “personagens/condições” pré-definidas pelo Diego e trabalhou com a coreografia matriz. Apenas para registrar: Jenifer (a risonha), Nilton (na rua, batedor de carteira e guarda de trânsito), Dani (a prostituta), Roberta (a cega), Thaís (a modelo), Fabi (a bailarina clássica) e eu (o bêbado). Foi um exercício com várias tentativas, interações, alterações e a constante reinvenção da partitura do personagem. Quanto mais nos aproximávamos e nos contaminamos mais contamos todos uma só história e nos interdependíamos. Ao final, quando começamos a trabalhar em duplas, ficamos eu e Fabi (o bêbado e a equilibrista) onde a corda de diálogo era mais tesa e portanto o feedback de cada ação era requisitado mais rapidamente; Foi bem curioso e com gosto de quero mais este trabalho.

O quarto e final destaque que venho trazer é que anulando o ritmo musical e usando um de leitura deparei-me com a letra de nossa Macarena e coloquei-a lado-a-lado com nossos “personagens da noite”. Ipsis Literis nenhum deles está contido na narrativa porém todos são potenciais contedores da mesma, ou seja, a transdução pode se dar pelas mais variadas formas, seja de uma letra, seja de uma batida. Como se dança a Macarena sem dança-la?

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